Luigi Leite
Análise | A Menina que Matou os Pais - A Chiquitita tá diferente!
Finalmente está entre nós um dos filmes nacionais mais aguardados dos últimos tempos. O longa dividido em duas partes (ou seriam dois longas?) conta os fatos através do depoimento dos envolvidos em um dos crimes recentes mais conhecidos da história do Brasil. O filme já era para ter sido lançado nos cinemas, mas por conta da crise do COVID precisou ser adiado inúmeras vezes até estrear, finalmente, no Amazon Prime Video! Quer saber o que achamos dessa adaptação? Então boa leitura!

O que você precisa saber?
Antes de mais nada, é importante que todos saibam que os envolvidos no assassinato do casal Von Richthofen, não receberam nenhum centavo do que os filmes arrecadaram ou arrecadarão. Isso é algo que inclusive a protagonista Carla Diaz enfatiza sempre que pode, ok?
Outras reclamações que vejo muito por essa terra sem lei chamada Internet, são pessoas esbravejando que não podemos dar palco para pessoas como Suzane e os Irmãos Cravinho, ora bolas, são as mesmas pessoas que assistem várias e várias adaptações diferentes de crimes reais dos EUA, ou que popularizaram séries sobre crimes como American Crime Story também dos EUAs. Ué?! Apenas a história do nosso país não importa? Então para de graça e vai ver o filme, ok?
É importante que você saiba que os longas foram dirigidos, atuados e produzidos com base nos depoimentos dados pelos réus, então é obvio que em algum momento algo parecerá muito errado ou fora do lugar, uma vez que um tentou culpar o outro e a história real precisou ser desvendada pela polícia com base nesses depoimentos, aliás, é exatamente por isso que temos A Menina que Matou os Pais (baseado no depoimento dos irmãos Cravinho) e O Menino que Matou Meus Pais (baseado no depoimento de Suzane).

A Versão Cravinho
Em A Menina que Matou os Pais, acompanhamos o depoimento de Daniel Cravinho (Leonardo Bittencourt) - Já aviso que ele não entrega muito e as cenas perdem um pouco do peso que deveriam ter - Em que ele conta como Suzane o levou a assassinar o casal com a ajuda do seu irmão.
Nesse filme, Daniel parece ser um rapaz comportado, de origem humilde e de boa família. O filme passa a impressão que ele poderia ser qualquer um ou que qualquer pessoa poderia ser levada a fazer o que ele fez sob a influência e terror psicológicos exercidos sobre ele pela namorada. Soube que deveria ter visto o outro filme antes, mas agora já foi... Se você ainda não viu nenhum dos dois, comece pelo outro, ok?
As influências que Suzane sutilmente exerce sobre o jovem pode até passar despercebido por alguém que não conhece a história amplamente divulgada pela mídia, e você realmente pode ser influenciado a pensar que ela sofria muito e era abusada física e emocionalmente pelos pais, fato desmentido pelo seu irmão. Por isso, repito, os filmes são feitos com base nos depoimentos de duas pessoas que queriam se safar de apodrecer na cadeia.

Carla Diaz, quer o mundo? Eu te dou!
O longa tem alguns atores de peso no elenco, como Leonardo Medeiros e Vera Zimmermann que embora estivesse ali para representar o casal Von Richthofen e tenham pouco tempo de tela, entregam o que deveriam e, nesse filme, são capazes de fazer a gente sentir o que Suzane queria que Daniel sentisse dado às pequenas crueldades direcionadas ao rapaz, fossem por comentários maldosos ou olhares.
Mas quem brilha o tempo todo é a nossa querida Ex Chiquitita, Dummy e Khadija, Carla Diaz! Provando ser uma das maiores atrizes da sua geração e que foi uma grande responsável por eu querer tanto ser um chiquitito quando era pequeno. É prazeroso ver o quanto ela é dedicada ao seu oficio e o executa de forma brilhante. Em alguns momentos você acredita que Suzane passou por vários horrores psicológicos, em outros você passa a pensar que ela era apenas uma menina muito mimada e boa de papo e em seguida você já está duvidando de tudo. Se alguém fez esse longa valer a pena, esse alguém é Carlinha Maravilhosa Diaz!

Romantização de um crime?
Evitei ao máximo ver análises e críticas antes de escrever a minha, mas as poucas que vi, batiam muito nessa tecla de "romantização de um crime", o que me faz pensar: "O que as pessoas esperavam ver em uma obra de ficção?"
É claro que algumas coisas parecerão ou serão fantasiosas, afinal, é um filme, as coisas precisam ser interessantes, ainda mais para algo que todos já sabem como acaba. O importante aqui é a mensagem que foi passada, as pessoas sabem que estão vendo a história de criminosos CONDENADOS. Então é obrigação do diretor tornar a história crível e para isso o protagonista precisa ser carismático. E como tornar um personagem carismático? Humanizando-o.
Mesmo que sejam pessoas horríveis, eles são seres humanos e o filme deixa isso escancarado ao tentar justificar a motivação de cada um para cometer o assassinato. O que não significa que seja justificável, mas para aqueles personagens, naquela situação, é! Entenderam a questão?
Você gostando ou não, isso faz parte da história do nosso país e a obra não perde em nada para as produções dos nossos amigos Norte-Americanos. A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou meus Pais estão disponíveis no Amazon Prime Video e você ta perdendo seu tempo sendo preconceituoso ao invés de aproveitar essa obra!
