Giulia K. Rossi
Análise | A Mulher na Janela - Mais um fracasso da Netflix?
Nem sempre é uma tarefa fácil adaptar obras literárias para as telonas. Contudo, entre sucessos grandiosos e fracassos brutais, A Mulher na Janela da dona Netflix também chega querendo fazer parte do desafio. Apostando em um elenco impecável, com astros como Amy Adams e Gary Oldman, será que o filme de Joe Wright impressionou o público?
Baseado no best-seller homônimo de A.J. Finn, o longa acompanha a história de Anna Fox, uma mulher agorafóbica, que vive reclusa em sua casa, bebendo vinho e bisbilhotando pela janela. Contudo, após a chegada da supostamente perfeita família Russel em sua vizinhança, a mulher presencia um evento chocante que muda sua vida.

A linha tênue entre o inovador e o esquisito
Aí, aí, Netflix, não sei como te defender, minha querida. Seguindo o mesmo padrão da adaptação Bird Box, estrelada por Sandra Bullock, o filme, mesmo protagonizado por nomes de peso, deixa à desejar. A edição exagerada acaba por transformar uma história interessante em uma trama (na falta de uma palavra melhor) esquisita. Na verdade, a direção tosca de Wright faz com que uma produção milionária se pareça nada mais do que um suspense de baixo orçamento. As referências ao icônico Hitchcook são perceptíveis, mas sem dúvidas má executadas.
Infelizmente, A Mulher na Janela caí no típico problema de adaptações: a falta de aprofundamento em uma história tão complexa. Como um bom suspense, a trama nos apresenta uma série de personagens que podem ser vistos como os "vilões" ou "mocinhos". Faz parte de filmes desse gênero provocar questionamento no público, mas, convenhamos, tudo tem um limite, não é mesmo?

As conversas e as personalidades forçadas de cada personagem deixam de cara um incômodo no telespectador. Os diálogos e as reações das pessoas parecem pouco naturais e, como um todo, tiram o aspecto crível da obra, ainda que se trate de uma ficção. Porém, o que mais prejudica a produção é a falta de desenvolvimento de todos os integrantes da narrativa, e o mesmo se aplica a relação entre eles.
Melhor fechar as cortinas! (Aviso de spoilers)
Vamos, é claro, falar sobre o relacionamento de Anna com Ethan (Fred Hechinger), o "bom moço". A relação rasa entre os dois gera um grande problema para a produção: um final previsível. Desde o início, Ethan é claramente apresentado como um jovem perturbado e solitário que, somado com uma atuação exagerada, levanta bandeiras vermelhas em qualquer um. Sinal de sociopata, sinal de sociopata!

Existem outros suspeitos na história, é claro, como o misterioso inquilino David (Wyatt Russell) e o agressivo Senhor Russell (Oldman), mas Ethan não sai dessa lista, o que torna toda a grande revelação no mínimo decepcionante. Talvez a grande reviravolta tenha sido a cura mágica de Anna de sua agorafobia, principalmente depois de viver um evento tão traumático quanto a morte de sua família... Para uma doença tão séria e pouco discutida, A Mulher na Janela não se preocupa com a indelicadeza e falta de embasamento ao introduzi-la.
As Mulheres que Salvaram o Filme
No meio de seus tropeços, o longa é carregado pela talentosíssima Amy Adams. Nomeada ao Oscar, a atriz mostra que sabe até mesmo desfrutar de uma direção ruim e faz o público se relacionar com Anna Fox, mesmo com um roteiro raso.

Contudo, o destaque aqui não vai só para a nossa querida ruiva, mas também para Julianne Moore, a suposta Jane Russel. As poucas cenas que as duas atrizes dividem são facilmente os pontos altos da obra, e o momento em que o telespectador é fisgado para dentro da história. É uma pena que nem mesmo isso foi melhor explorado...
Como uma adaptação, o filme é apressado e mal explorado - um fracasso. Entretanto, para os não leitores do thriller psicológico de Finn, A Mulher na Janela, embora não se caracterize como uma obra prima do gênero, cumpre o seu propósito de entreter. Certamente, não vai ser nem a melhor coisa e nem a pior coisa que você vai assistir essa semana.
