@tonfabricio
Análise | Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem
E nesta semana foi a estreia do documentário musical Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem, produção que mostra um o espetacular show do rapper no Theatro Municipal em 2019, além de abordarem assuntos como racismo, reparação histórica, desigualdade social e liberdade das minorias.

Emicida não veio apresentar apenas um show no catálogo da Netflix, mas veio ensinar sobre um movimento de luta, abrir nossos olhos e buscar tudo aquilo que foi tomado de seu povo. Cheio de frases impactantes, o artista nos atinge no meio e nos faz refletir sobre um problema racial enfrentado há anos que ainda persiste. Assim como ele mesmo diz "eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei", pois sonhos e lutas chegaram antes de sua chegada.
Um aprendizado
Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem volta no tempo diversas vezes para mostrar os impactos da época refletidas até hoje. Os negros escravizados saíram de países africanos e pisaram em terras brasileiras contra suas vontades. Suas tradições e credos foram demonizados pelos brancos com seu cristianismo, religião que não pregava amor, apenas julgamentos.
Como se não bastasse associar a pele escura com a maldade, após anos de escravidão, pouco a pouco, os brancos começaram a embranquecer a raça preta, além de apagar a cultura africana dentro do Brasil. Sendo assim, os negros foram obrigados a viver nas margens da periferia de São Paulo, local onde muitos se encontram lá até hoje.

Mesmo com tanta desgraça, Emicida mostra o poder dos pretos dentro deste país. Embora poucos saibam, homens e mulheres pretos foram os responsáveis por fazer de São Paulo o que é hoje. A arte do Samba, a arquitetura, o grafite, o hip hop, TUDO, foram construídos por mãos pretas, mãos que a história tenta apagar, mas AmarElo traz à tona!
O show do rapper aconteceu no Theatro Municipal. Questionado pela escolha do ambiente, Emicida diz que é porque poucos negros conhecem o local. O teatro é a alma de São Paulo, e o povo preto tem que ocupar todos os lugares negados, como medicina, engenharia, arquitetura, direito, dentre outros. Tudo que foi tomado de um povo escravizado precisa ser devolvido pra ontem.
Plantar, regar e colher
Emicida associa a sociedade com a jardinagem. O artista conta sobre seu processo de aprendizagem com a horta e comenta sobre as pragas que surgem conforme sua plantação começa a crescer, pragas como aranhas e cobras.
''A aranha e a cobra não querem te machucar, essa é a última opção. Se te machucam é porque sentem medo. O medo te empurra a fazer coisas que você não queria fazer.''
Todo esse período de plantar, regar e colher é o caminho de luta racial. Na produção da Netflix passamos a conhecer muitas vidas importantes para este movimento e quanta injustiça e perseguição eles enfrentaram e enfrentam.

O racismo foi tanto que foi criada a Lei da Vadiagem, lei usada para prender sambistas, capoeiristas, seguidores do Candomblé e Umbanda. Os brancos se incomodaram tanto com a presenta de pretos em seu lazer que criaram uma desculpa para forçá-los a se calar e botá-los atrás das grades. Por incrível que pareça, a lei ainda existe...
A liberdade é uma só
"Ano passado eu morri, mas este ano eu nao morro" é uma frase parte de uma de suas mísicas, onde o rapper canta junto de Majur, uma mulher trans e Pabllo Vittar, um gay drag queen. A formação desse grupo tem um peso enorme: mostrar que a luta pela liberdade é uma só.

Emicida frisa que a busca pela liberdade é a mesma, não tem distinção, ou seja, é impossível lutar por um movimento e apagar o outro. Uma minoria sozinha é fraca, mas todas juntas são fortes. Pretos, mulheres, nordestinos, transexuais e homossexuais tem um inimigo em comum e todos nós sabemos quem são.
O documentário mostra a desigualdade social, o racismo estrutural presente no nosso meio e o caminho onde as minorias devem seguir para enfrentar esse sistema. Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem é poderoso e emocionante e merece ser visto pelo mundo todo.
"'Exu matou o pássaro ontem com a pedra que só jogou hoje.' A chance de consertar os erros do passado moram no agora. É tudo pra ontem"

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