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  • Foto do escritorGiulia K. Rossi

Análise | Força-Queer - O desenho LGBTQ+ que tanto esperamos?

Nadando na onda do sucesso de animações adultas e satíricas, como Ricky e Morty e Bojack Horseman, a nova série da Netflix, Força-Queer, aposta na representatividade LGBTQIA+ para se destacar entre o mar de produções. Cheia de referências da comunidade, um humor ácido e, para completar, um elenco de primeira mão, será que a animação brilhou tanto quanto poderia?


Criada por Gabe Liedman, Sean Hayes e Michael Schur (pensa em um trio poderoso!), a comédia segue Steve Maryweather, um dos melhores agentes do serviço secreto AIA, que perde toda a sua popularidade quando se assume gay. Mas, após ser mandado para West Hollywood, Steve não dá o braço a torcer e forma o seu próprio esquadrão de talentosos e desajustados agentes queer.


O esquadrão dos sonhos!


O que logo chama a atenção no seriado é o seu elenco incrivelmente talentoso, formado especialmente por atores assumidamente LGBTQIA+, um ponto essencial em produções do gênero. Nas vozes originais, temos Sean Hayes dando vida ao Agente Mary, o líder da Força Q e um espião bem no estilo James Bond, Wanda Sykes no papel de Deb, a engenheira e mãezona do grupo, Matt Rogers como Twink, a drag queen mestre dos disfarces, e Patti Harrison como Stat, a hacker gótica e antissocial.


A dinâmica do grupo é, sem dúvidas, um dos grandes aspectos positivos da produção, pois, fora o talento de seus dubladores, os personagens são carismáticos e interessantes por si só. Contudo, também vale destacar a grande aliada de Marywather, a agente V (Laurie Mitchell) e o integrante honorário do esquadrão, o heterotop Buck (David Harbour). Ambos contribuem para importantes momentos da série, e possuem um aprofundamento por vezes até maior do que os próprios membros da Força Q.

Salvar o mundo nunca foi tão fabuloso!

É chuva de referencias que vocês querem? Então segura essa!


Além dos divertidos personagens, a animação ganha vida com a sua infinidade de referências, que conversam diretamente com o público LGBTQIA+. Temos a estrela Ariana Grande, extravagantes paradas de Orgulho Gay e menções a filmes como Erin Brockovich, O Segredo de Brokeback Mountain e até O Diário da Princesa (particularmente o meu preferido!).


A série não poupa nos comentários sarcásticos e nas alfinetadas sutis (às vezes nem tanto) a cultura pop, desenvolvendo um humor característico do começo ao fim. Entretanto, para quem optar por assistir no áudio original, se prepare para perder alguma das várias referências voltadas especificamente para a comunidade queer dos Estados Unidos. Infelizmente, levando em conta a abrangente audiência da Netflix, algumas das piadas não agradam todos os públicos e torna a produção mais cansativa do que qualquer outra coisa.

E eu apresento a vocês, Mira Popadopolous... Princesa de Gyenorvya

Close errado!


Mas, agora vamos falar do que interessa: a representatividade. Em uma premissa ousada, que tinha tudo para retratar a comunidade LGBTQIA+ de uma forma leve e divertida, a animação deixa a desejar e, mais uma vez, foca em apenas alguns grupos, ignorando várias das letras (já tão negligenciadas) da comunidade. O seriado não tem medo de brincar com os estereótipos de lésbicas e gays e usar isso ao seu favor, mas a representação de transgêneros, bissexuais, assexuais e muitos outros fica esquecida no rolê.


Assumir a responsabilidade de representar a pluralidades do público queer não é uma tarefa fácil, muito menos em uma série de comédia. Contudo, mesmo com boas intenções, Força-Queer deixa aquela sensação decepcionante de que poderia ter sido melhor caso tivesse deixado de lado algumas piadas e, ao invés disso, focado em todo o seu potencial e diversidade. São poucos os desenhos voltados para o vale, mas, infelizmente, a animação da Netflix não cumpre as expectativas - esse era para ser o nosso momento!

E para que tanta nudez, meus amados?!


Melhor não levar a sério!


Esses erros, entretanto, não diminuem a importância de uma produção como essa. De modo geral, Força-Queer tem uma trama de espionagem envolvente, brincando descaradamente com os clichês do gênero, mas inserindo uma poderosa critica social por trás. Em certos momentos, o seu ritmo frenético atrapalha o aprofundamento da história e até dos personagens, mas, ao todo, a amizade entre os protagonistas traz aquele jeitinho de família que tantos membros da comunidade vão se identificar.

Na maior parte do tempo, como de costume em animações desse estilo, a produção não se leva muito a sério, e a graça é exatamente essa. Então, se você abrir a mente e quiser passar o tempo com um fabuloso grupo de agentes secretos (e Buck...), prepare-se para dar algumas risadas com a maravilhosamente queer, Força Q!



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