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  • Foto do escritorGiulia K. Rossi

Análise | La Jauría - Potencial perdido em uma bagunça de ideias

Após o lançamento (e sucesso!) de séries como The Boys, não se pode dizer que a Amazon Prime não está cheia de produções incríveis escondidas em seu catálogo. A série chilena, La Jauría, chega com uma premissa forte e poderosa, em uma trama que tem tudo para também fazer parte dessa lista de tesouros ocultos – mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu!


A produção de Pablo Larrain tem início no momento que Blanca Ibarra (Antonia Giesen), líder de um protesto de meninas contra um professor assediador em um colégio católico, desaparece. Entretanto, o desespero das garotas se intensifica quando um vídeo de Blanca, sendo violentada coletivamente por um grupo de homens, viraliza na internet.


E é aí que entra no caso o trio de investigadoras – temos a durona Olivia Fernández (Antonia Zegerz), sua habilidosa parceira Carla Farías (Maria Gracia Omegna) e, não menos importante, a inteligente e séria detetive Elisa Murillo (Daniela Vega). O que elas não esperavam, contudo, era encontrar algo muito maior por trás disso tudo – “O jogo do Lobo”, uma rede desenvolvida para promover uma matilha de abusadores que partem atrás de suas presas (mulheres) como se fosse uma mera brincadeira.


Mas, os horrores não estão nem perto de terminar.


Viajou um pouco, minha querida?


A série de Larrain se torna ainda mais avassaladora por se inspirar em um caso que, de fato, aconteceu. Em 2016, no meio de um festival na Espanha, cinco homens pegaram uma jovem e a violentaram coletivamente. Vídeos do ato foram depois compartilhados em um grupo de WhatsApp chamado La Jauría. O acontecimento gerou (com razão) protestos e revoltas ao redor do mundo.


Apesar de não seguir à risca o ocorrido, a produção aborda muito bem a violência contra a mulher. Larrain não se importou em explorar diversos tipos de abuso, seja físico ou emocional, assim como o poder da internet e a estrutura patriarcal que reina em nossa sociedade. Essa, definitivamente, não é uma série que você vai assistir no final do dia para relaxar!


Entretanto, uma mensagem tão forte acaba se perdendo em uma fraca execução. Primeiramente, a obra tem uma trama envolvente e tem um início que fisga a atenção do telespectador, porém, peca em seu desenvolvimento. O drama possui tantas tramas e subtramas que, ao invés delas se complementarem e ganharem força umas com as outras, acontece justamente o contrário. Temos sequestros, hackers, militares, roubos de bebê, professores justiceiros... e isso só para dizer o mínimo.


Além disso, são tantos personagens vivendo suas próprias narrativas, que dificulta o desenvolvimento e aprofundamento de cada um. Temos, por exemplo, além da história das três investigadoras, a trama de Celeste (Paula Luchsinger), a irmã caçula de Blanca, que sai por sua conta e risco em busca da garota (é incrível como em séries os jovens sempre querem resolver questões perigosas sozinhos – existe polícia por algum motivo!).

Pelo Amor, Celeste, você só tem 16 anos!

Por fim... o próprio fim deixa a desejar. O principal arco narrativo se fecha durante a primeira temporada (com alguns finais felizes e outros nem tanto), porém, as cenas de ação são tão fracas que resultam em um desfecho, no mínimo, anticlimático.


Tudo parece um pouco conveniente e ficcional demais. A credibilidade é facilmente esmagada no meio de tanto “ah, isso foi resolvido assim e pronto”. Para uma série de investigação, a parte policial não parece muito realista. O público não tolera escritores preguiçosos, hein! É sério, alguém aí pode me explicar como todo mundo tem o poder de chegar sempre no momento certo das coisas?


Elogios são sempre bem-vindos!


Entretanto, La Jauría também merece um tapinha no ombro. Apesar de todos os clichês e algumas falhas no roteiro, a série continua deixando bem clara a sua mensagem: o machismo não é nenhuma brincadeira. E cenas fortes, além de boas performances, principalmente do elenco jovem (em destaque Mariana di Girolamo e Paula Luchsinger), ajudam a mostrar isso.


Além disso, a produção também reflete sobre alguns aspectos importantes da nossa sociedade: os abusadores e agressores assumem diversos jeitos, formas e rostos, mostrando que comportamentos desse tipo podem partir de qualquer um. Até mesmo um garoto tímido e simpático pode cometer atrocidades por conta de pressões sociais. Isso fica bem claro na narrativa do inocente Gonzalo, filho adolescente da investigadora Fernández.


Portanto, entre altos e baixos, a obra continua levantando questões e temas essenciais atualmente. E só por isso ela já merece certo reconhecimento. O desenvolvimento foi falho, mas a intenção foi boa. Medalha de participação, vai!


Agora, vamos ver se a próxima temporada (que já está sendo produzida) vai elevar o nível e focar no que realmente importa - queremos justiça!







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