@tonfabricio
Análise | Lovecraft Country - A envolvente série da ficção para a crítica social
Atualizado: 26 de out. de 2020
Após dez episódios, a série Lovecraft Country terminou a sua primeira temporada. Baseada no livro Território Lovecraft, de Matt Ruff, o seriado da HBO abusa da imaginação com o terror cósmico. Intrigantemente cativante, cada episódio sai da rotina e encara novos horrores, como monstros, magia, casa mal-assombrada, viagens no tempo, demônios, seitas, dentre outros.

Além de Lovecraft Country arrasar com o elenco de atores, a produção também conta com grandes nomes na parte técnica, como Jordan Peele (Corra), J. J. Abrams (Star Wars: O Despertar da Força) e Misha Green (Underground). Embora Peele e Abrams sejam aclamados, quem se destaca mesmo é Green. A escritora e produtora é a responsável por vocês quererem aplaudir ao final de cada episódio. Espero que ela esteja bem, pois carregou a obra nas costas!!
Da ficção para a realidade
Lovecraft Country tem como protagonista Atticus (Jonathan Majors - The Last Black Man in San Francisco), um ex-veterano à procura de seu pai desaparecido. Nessa busca por respostas, Atticus embarca em uma jornada com seu tio George (Courtney B. Vance - American Crime Story) e Letitia (Jurnee Smollett - Aves de Rapina), uma mulher que não tem medo de encarar brancos na luta contra o racismo.

É nessa viagem onde a vida desse trio (e outros) começa a mudar. O mundo simplesmente vira de cabeça para baixo no instante em que se deparam com seres jamais vistos, a adrenalina e terror tomam conta do primeiro episódio. Apesar da ficção, Lovecraft Country mistura acontecimentos reais, como a Guerra da Coreia e o Massacre de Tulsa (massacre citado no primeiro episodio da série Watchmen).

Além desses ocorridos, a série é uma crítica social ao preconceito. Por mais que Lovecraft conte com o sobrenatural, os verdadeiros monstros são os brancos com seu sistema opressor. É impossível assistir o seriado sem ficar tenso e revoltado quando os personagens encaram cenas com personagens racistas.
Do livro para a TV
Embora o romance Território Lovecraft seja incrível, a série consegue se superar, afinal, o livro foi escrito por um homem branco, já o seriado é escrito, dirigido e interpretado por pessoas negras. Ainda mais no caso de Green, que além de sua cor, é uma mulher, sofrendo preconceitos duas vezes mais.

Misha Green consegue empoderar personagens "coadjuvantes" e nos marcar com discursos arrepiantes. Cenas como Letitia quebrando os carros dos racistas e Ruby (Wunmi Mosaku - Luther) desabafando sobre como é ser uma mulher preta na sociedade é emocionante.

Cada episódio de Lovecraft Country parece uma história totalmente a parte uma da outra, mas aos poucos as tramas vão se amarrando até chegarem em seu desfecho. Apesar de ser criativamente um sucesso, existem alguns episódios mais mornos, entretanto, num contexto geral, a obra é impecável. Apresentar um número grande de personagens, ter um cuidado especial com cada um e fazer com que todos brilhem, não é fácil, mas Green conseguiu este feito.

Difícil é terminar o seriado e ter que escolher um personagem favorito. Na verdade, difícil é escolher uma personagem favorita, pois quem arrebenta são as mulheres. Enquanto os homens abaixam as cabeças e se escondem em seus segredos, elas batem de frente contra policiais, enfrentam seres sobrenaturais, além de serem capazes de ir para outras dimensões para mostrar que o mundo é delas e ninguém tira.
Aceitações
Além de tudo, Lovecraft Country é um conto de aceitação. Aceitar a sua condição sexual, aceitar a sua cor, aceitar a sua história. Aceitar que ninguém nasceu para ser sombra, mas cada um é dono de seu próprio destino. Que todos sejamos Hippolytas para o mundo!!

Lovecraft Country acabou, mas já estamos torcendo para novas temporadas. Se ainda não viram esta série, corram ver!!!

Gostaram da nossa análise?? Qual personagem vocês mais amaram?? Também querem novas temporadas?? Comentem!!