@luigienricky
Análise | Quem vai ficar com Mário? - Divertido e provocativo na medida (quase) certa
Eis que no dia 10 de Junho de 2021, no mês do Orgulho LGBTQIA+, chegou aos cinemas brasileiros uma comédia nacional estrelada por Daniel Rocha, Letícia Lima, Nany People, Felipe Abib e Rômulo Arantes Neto que conta a história do Mário, aquele que... se encontra numa verdadeira emboscada sentimental.
É claro que a bicha aqui não ia deixar de prestigiar o cinema nacional e nem de exaltar uma obra voltada para o publico mais colorido desse mundo, embora eu tenha sentido que o filme não era bem para os gays, mas isso eu vou explicar na minha análise, bora lá?

Mas quem é Mário?
Sei que aquela infame piadinha da quarta série passou pela sua cabeça podre nesse momento (ela também acontece no filme) mas aqui, nem o próprio Mário (Daniel Rocha) sabe quem ele é. Se comportando como um verdadeiro libriano (nem sei se ele é mesmo) na maior parte da sua história ele se pergunta quem é, do que gosta, o que ele ta fazendo com a sua vida e o que quer para seu futuro.
Um dia, decidido a assumir seu relacionamento de quatro anos com o fofo do Fernando (Felipe Abib) nosso protagonista viaja para o sul para contar pra família sobre sua sexualidade, mas antes decide fazer um teste se assumindo para o irmão mais velho que até reage muito bem. Pronto para finalmente se libertar durante um jantar, uma outra situação vem a tona e faz que seu pai sofra um infarto e Mário ter que assumir, por livre e espontânea pressão, os negócios da família.

A frente da cervejaria, Mário passa a conviver e trabalhar com a coaching Ana (vivida pela Letícia "Minha Religião" Lima) e conforme vão conversando e se conhecendo acabam criando mais do que uma amizade, principalmente por que Ana é o oposto de Mário, completamente focada, determinada, decidida e poderosa ao mesmo tempo que eles têm muitos gostos em comum.
A partir daí, nosso querido protagonista indeciso passa a questionar a sua sexualidade e seu lugar no mundo (de novo) e já não sabe mais se é uma boa ideia assumir quem é para seu pai que é o cara mais machista e homofóbico do universo. Dividido entre os dois amores, trabalho e família, Mário enfrenta situações e mais situações que mudarão para sempre a sua vida.
Discussões Importantes
O filme me pegou de surpresa pois achei (pelos trailers) que Mário era bissexual, mas ele começa o filme assumindo ser abertamente gay (pelo menos para nós, espectadores) o que me deixou curioso para saber como a história chegaria a fazer jus ao seu título. Acredito que o nome do filme é mais pra chamar atenção do público do que realmente dar pistas sobre a história, se é que me entendem.

A cidade onde acontece a história é em algum lugar do Rio Grande do Sul e acredito que o local tenha sido escolhido propositalmente por conta do posicionamento sulista anti-LGBT, inclusive a cena em que conhecemos a Ana já é um baita soco no estômago do machismo estrutural em que vivemos. Ao longo da trama também temos mais discussões importantes sobre aceitação, tolerância, machismo (inclusive legitimado pelos próprios gays) e as outras siglas da bandeira LGBT (mas se eu falar mais será spoiler).
Lembram que eu disse que esse filme não é necessariamente feito para homossexuais? Pois é, me pareceu que a ideia principal bebe muito da fonte do que Minha Mãe é uma Peça fez, explicar para os mais ignorantes no assunto o que é ser Gay, o que é poliamor, o que é Machismo, tudo explicado de forma simples e clara. Por conta dessa pegada mais family friendly, não espere cenas quentes, nem pegações exageradas e nem cenas de beijos (sua imunda safada).
Talvez justamente por entender e fazer parte do universo LGBT eu já esperava o rumo que o filme tomaria e achei previsível, o que não significa que seja um filme ruim, ok?

Faltou só um negocinho...
Algumas coisas para mim não funcionaram muito bem principalmente nas escolhas do roteiro, darei alguns exemplos:
Uma das sub tramas do filme é a ideia de lançar uma cerveja para o público LGBT e a Coaching Ana explica exatamente como o pink money funciona e, mesmo que saibamos que muitas empresas utilizam do poder aquisitivo das gays sem fazer nada por elas, foi um close meio errado deles abordarem o assunto descaradamente mesmo que o pai de Mário fosse completamente homofóbico, sei que isso poderia ser justificado como uma "falta de atenção dos próprios personagens" que não entendem muito bem como o mundo funciona, mas me incomodou, sorry!
Por falar no pai, outro ponto que me incomodou foi o fato dele mudar de ideia tão rápido sobre a forma de pensar. Quem é LGBT e vem de família conservadora sabe que a aceitação de certas pessoas pode levar muuuito tempo para vir ou então nunca chegar. Foi algo muito abrupto que causou uma estranheza de aceleração da história apenas para dar um desfecho otimista. Foi algo muito conto de fadas e fora da realidade, mesmo que o filme não se comprometa em ir a fundo nesse tema por não ser o foco principal da narrativa.
Por conta desses dois pontos, muitos momentos chave da história acabaram sendo anticlimáticos e as cenas que deveriam ser emocionantes e fazer a gente chorar, não conseguiram chegar lá, o que é uma pena. =/

No mais...
Quem vai ficar com Mário? entrega uma história divertida, que nos faz refletir e nos ensina sobre as várias formas de amor que existem por aí. Mesmo que o drama não funcione muito bem em alguns momentos onde até ensaiei uma lágrima ou outra, é um filme divertido para você assistir com a sua família pois tem amor, traição, comédia, viado dando close e até cena de despedida em aeroporto... É um prato cheio pra quem ama uma novela.

