Luigi Leite
Análise | Sintonia T:02 - Doni, Rita e Nando voltam arrasando na série do KondZilla
Se você me perguntasse sobre a primeira temporada de Sintonia até pouco tempo atrás eu te diria que é uma série para dar boas risadas mas com zero aprofundamento, previsível e muito muito muito bobinha. Acontece que este era eu de 3 anos atrás quando não tinha muita consciência politica nem social e não tinha a capacidade de analisar profundamente a importância da obra como um todo, mas calma, será que minha opinião mudou tão drasticamente? Para saber o que achei da temporada 2 de Sintonia e só botar o tênis no pé e ir pra caminhada comigo!

Você sabia?
A maioria do elenco de apoio e até alguns do elenco fixo de Sintonia são ex condenados ressocializados que começaram a fazer aulas de teatro para que pudessem estrear a série? Essa foi uma ação da Netflix e do (ou seria "de") KondZilla que por si só já deveria ser motivo suficiente para que você dê uma chance para esse cristalzinho, além de ser uma produção nacional das mais bem feitas.
Na série acompanhamos as vidas de três jovens: Nando que sonha ser patrão, vulgo, mandar no morro. Doni, que tem o sonho de se tornar um MC de Sucesso e Rita s̶u̶a̶ ̶r̶a̶t̶a̶ que depois de viver uma vida mundana entra para a igreja e tenta fazer a diferença de outra forma.
Embora possa parecer, para quem não é de comunidades, um grande estereótipo, a verdade é que é mesmo, mas não significa que não seja fiel à realidade. Através dos três podemos entender com mais facilidade sobre as perspectivas de futuros de cada um, da realidade de milhares de crianças que tem que aprender a se cuidar sozinhas desde cedo e ainda o quão fácil é entrar no mundo das drogas e quão difícil é sair. Se você for preto, então tudo é 1000x mais difícil para você! (Olha aqui Netflix, você não me faça mal pro Nando).
A história finalmente evoluiu e amadureceu

Uma das maiores reclamações que este que vos fala esbravejou aos quatro cantos do mundo, é justamente em relação ao desenvolvimento da temporada anterior que, salvo Doni, não levou ninguém a lugar nenhum. Mesmo que tenha nos apresentado verdadeiras lendas da interpretação (sim Jussara, to falando da senhora que parece super as mães barraqueiras que iam na porta da escola defender os filhos), limitou-se apenas a pequenos conflitos rapidamente resolvidos em poucos minutos de episódio e deixou de lado os outros dois protagonistas para apenas nos dar um vislumbre nos segundos finais do último episódio sobre o que poderemos esperar de ambos no futuro.
Além do ritmo, a série se perdia no timing também, o que deixava difícil entender sobre o que estava acontecendo em que momento e eu nem vou falar do vocabulário usado que é super difícil de compreender, real! E olha que eu não vim de um meio tão diferente do retratado na série, mesmo assim me perdia em tanta gírias. Mas isso nem é tanto uma crítica por que é muito legal ficar repetindo as frases dos personagens (Pau molhado não quebra!).
Doni

Doni foi um personagem exaustivamente explorado na temporada passada, o que não permitiu que tivesse tanto para mostrar do rapaz agora. Com exceção de um pequeno conflito rapidamente resolvido com o agiota, ele só passa a temporada toda correndo atrás dessa personagem que nem me importei de saber o nome de tão sem graça, sem carisma (e sem talento) que é.
Pode ser que no futuro ele possa ter sua carreira prejudicada por ser mulherengo e querer curtir ao invés de trabalhar, uma vez que é o mais mimado dos três e nunca dá valor ao que tem, chega dar ódio!
Rita (a rata?)

No final da temporada 1, descobrimos que Rita (após levar uma coça de Jussara) encontra "Jesuis" e torna-se uma jovem gospel. Dada à personalidade da personagem, eu esperava que ela entrasse para a igreja para roubar geral e passar a perna. Acontece exatamente o contrário, ela realmente está disposta a mudar e ser alguém melhor.
Confesso que isso me incomodou bastante e se você espera por algo assim é melhor baixar as expectativas, mas quando li mais sobre o desenvolvimento da série, percebi o quão importante é para as comunidades como a que Rita mora a presença de igrejas que afasta os jovens do mundo das drogas e do tráfico.
Isso não significa que não tenha nada de errado ou de podre acontecendo. E com o desfecho de Rita na temporada 2, é bem provável que possamos explorar esse lado superfaturado na igreja matriz onde ela frequenta.
Nando

Inegavelmente, os melhores momentos da temporada 2 são os que envolvem o Nando. Sintonia não tem medo de mostrar a realidade dura de quem se envolve com o tráfico de drogas nas favelas. Algumas cenas não são fáceis de assistir e deixam a gente preocupado com o futuro do personagem pois é muito fácil se apegar a personalidade gentil de Nando ao mesmo tempo que lutamos contra nossos próprios valores por sabermos que o que ele faz é errado.
Independente disso, é difícil não tem empatia quando você conhece o passado de alguém que não teve oportunidades nenhuma na vida e tudo que ele conhece é a linguagem violenta das ruas.
E agora?
A série acaba com um final aberto, e diferente da sua temporada passada que não cativou muito, dessa vez estou realmente interessado em saber o que vai acontecer e tenho certeza que a dona Netflix não nos decepcionará. Ainda mais agora que o MC Jottapê já tem até musica com ator da queridinha do streaming, Elite!
Ainda tem muita coisa para melhorar em relação a atuações e continuidade, isso é inegável, mas também não podemos negar que a história evoluiu muito e aprendeu com os erros do passado dando um ar completamente diferente ao que foi mostrado até então. Sintonia tem tudo para brilhar por muito tempo no catalogo da Tudum e com certeza não faltarão história pra contar.
PS: Netlix, faça um spinoff da Jussara, nunca te pedi nada!

