Giulia K. Rossi
Análise | Special: 2ª temporada - A despedida perfeita para os seus fãs especiais
A comédia criada e estrelada por Ryan O'Connell lutou para se manter na patroa dos streamings e, para a alegria da sua fiel base de fãs, Special voltou para uma segunda e última temporada, proporcionando para a sua audiência uma despedida apropriada de Ryan, Karen, Kim e todos os outros excêntricos e apaixonantes personagens.
O segundo ano da produção começa algumas semanas após os eventos da primeira temporada. Portanto, o nosso teimoso protagonista continua distante de sua preocupada mãe, Karen (Jessica Hecht), após a grande briga entre os dois. Enquanto isso, a deslumbrante Kim (Punam Patel) ainda precisa lidar com os seus problemas financeiros, sem perder a elegância, é claro.
Nessa nova etapa da série, os episódios são um pouco mais longos do que os da temporada anterior, permitindo que o roteiro se aprofunde melhor em todos os personagens e os seus relacionamentos. Isso, com certeza, foi um ponto muito positivo da obra, que agora explora o seu verdadeiro potencial.

Algumas surpresas no caminho... (aviso de spoilers)
Logo de início, a passagem de tempo pega o telespectador desprevenido com certas novidades. Algumas, infelizmente, não muito boas. Os fãs de Ryan com Carey (Augustus Prew) são surpreendidos com a notícia de que o personagem de Prew foi embora da cidade e o casal terminou antes mesmo de começar. Uma pena!
Contudo, os românticos de plantão não precisam se desesperar, pois logo, logo somos introduzidos a Tanner (Max Jenkins), um rapaz extrovertido e descontraído que Ryan conhece casualmente em um bar. O relacionamento dos dois é um dos grandes focos da temporada, especialmente quando o nosso protagonista descobre que Tanner tem um namorado e está em um relacionamento aberto.

A história de amor do casal pode não ter o final esperado por muitos (como eu!), mas a relação dos dois traz um amadurecimento perceptível no personagem de Ryan, que passa a primeira temporada tentando se desvincular de sua paralisia cerebral, mas aqui faz justamente o contrário.
Chega de rótulos!
Em algumas cenas dolorosas (como o seu encontro com o ator da Hallmark) e outras cômicas, Ryan amadurece ao longo da temporada e passa por uma linda jornada de aceitação. E é aqui que entra os Crips, o divertido grupo de deficiente ao qual o personagem se junta, após criar um rápido vínculo com o autista, gay e bem-humorado Henry (Buck Andrews). A relação romântica de Ryan com Henry não teve seu dia sob o sol (ainda!), mas a amizade formada entre eles aquece qualquer coração.
Nesse aspecto, Special se aprofunda nas importantes questões que a série levanta sobre deficiência e inclusão. É ótimo ver o ponto de vista desses personagens, ao mesmo tempo que as suas histórias e vivências não caem somente no tom dramático e trágico, como é comumente retratado este tipo de representatividade.

Aquelas que roubam a cena...
É claro que aqui precisamos falar de Kim e Karen, e não só da amizade inusitada que se forma entre as duas. Um dos aspectos mais interessantes dessa nova temporada foi o aprofundamento na personagem de Kim, que parou de ser somente a amiga e colega de Ryan e ganhou o seu próprio destaque. Pudemos ver um pouco mais da sua relação com a sua família, suas dificuldades como uma mulher indiana na América, e suas inseguranças quando colocada em um promissor relacionamento amoroso. Ninguém é confiante o tempo inteiro!
Porém, a personagem de Patel não foi a única que brilhou nessa segunda parte. Como já vinha fazendo, Karen, sem dúvidas, proporciona para a audiência as melhores e mais emocionantes cenas da temporada. O seu relacionamento com o seu vizinho Phil (Patrick Fabian) pode até ter desandado (e talvez não tenha tido a atenção que merecia), mas a história de Karen se estende muito mais do que apenas romanticamente.
Ela conquista o público com o seu luto inusitado pela sua mãe, e então, nos proporciona incríveis momentos cômicos quando decide viajar sozinha pela primeira vez. A sua conquista da independência e liberdade como uma mulher é nada menos do que um dos pontos mais marcantes desse peculiar sitcom.

A verdadeira história de amor
Entre tantos altos e baixos amorosos, não podemos nos esquecer que a relação principal da série não é romântica. Mas sim, entre Ryan e sua mãe. Karen e o nosso protagonista estão sofrendo pela primeira vez uma grande distância. e é interessante ver como isso afeta cada um deles e os obriga a crescer de outras maneiras, agora sozinhos. Ryan não pode mais chamá-la apenas para desentupir sua privada, então vamos ver no que dá!
No momento que os dois finalmente largam a teimosia (Ryan, estou falando com você), e decidem se reconectar, o público fica com um certo receio de que os dois irão cair na mesma armadilha da co-depência que eles viviam todos esses anos. Mas, não. É evidente que ambos amadureceram como indivíduos nesse período afastados e aprenderam a valorizar o outro (Ryan, estou falando com você de novo), o que torna a relação entre eles muito mais saudável e mútua - A verdadeira história de amor dessa comédia.

Tudo que é bom dura pouco
Algumas histórias ficaram perdidas no caminho, como o relacionamento de Karen com Phill ou de Kim com o milionário charmoso Harrison (Charlie Barnett), mas, de modo geral, a segunda temporada definitivamente veio para agradar os fãs. Ela até mesmo proporcionou um bom desenvolvimento da hilária e incrivelmente desagradável Olivia (Marla Mindelle), chefe da Eggwoke (se o casamento dela com uma mulher não te pegou de surpresa, você está mentindo!).
Em uma série curta, cheia de humor, carinho, diversidade e representatividade, Special não teve medo de explorar assuntos sérios ao mesmo tempo que se jogava na comicidade e excentricidade de seus personagens. Nessa segunda e última etapa do seriado, ele, mais do que nunca, explorou tudo aquilo que o torna... especial.
