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  • Foto do escritorGiulia K. Rossi

Análise | The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade - Brutalmente poético e verídico

Não é só de romance e comédia que vive a televisão americana. A produção The Underground Railroad: Os Caminhos Para a Liberdade de Barry Jenkins não teve medo de mostrar a brutalidade da escravidão e de chocar o público com uma trama dramática e carregada de momentos impactantes. Em uma narrativa supostamente fictícia, o que assusta é a realidade naquilo que vemos.


Baseado na obra de Colson Whitehead, a série acompanha a determinada Cora (Thuso Mbedu), uma escrava que, na tentativa de se libertar, descobre uma ferrovia subterrânea. A jovem, então, se locomove para diversos lugares da América do Norte, enquanto desesperadamente tenta escapar do temido caçador de escravos, Arnold Ridgeway (Joel Edgerton).


Nada de censura por aqui


Diretor do aclamado longa Moonlight: Sob a Luz do Luar, que levou o Oscar de Melhor Filme em 2017, Jenkins explora as atrocidades cometidas pelos homens brancos de um jeito tanto brutal quanto poético. A série não se priva de cenas violentas, que duram por longos minutos e fazem o telespectador se contorcer de dor, contudo, a direção de fotografia ainda assim cria planos esteticamente memoráveis e fantásticos.


Esse, com certeza, não é o seriado que você vai querer assistir para descansar em um dia de domingo e relaxar no sofá. E as atuações levam grande parte do crédito por isso. A interpretação de Thuso Mbedu como Cora é devastadora. O sofrimento estampado em seus olhos, combinado com uma fotografia que usa e abusa da quebra da quarta parede, só deixa todos os momentos ainda mais sentimentais e pesados, mesmo quando não há nenhuma violência explícita em tela.


Por falar em interpretações, aqui todo o elenco brilha, não só a protagonista. Mesmo odioso e abominável, Joel Edgerton se destaca em seu papel como caçador, criando um personagem profundo e cheio de nuances até o seu último momento em tela. O mesmo se aplica a Aaron Pierre, o inteligente Caesar, que, mesmo em poucos episódios, deixa sua marca na vida de Cora e na audiência.


Um verdadeiro ponto de interrogação


Entretanto, entre os seus episódios longos e únicos entre si, a produção se perde em algumas tramas desconexas. No primeiro episódio, temos um teor mais dramático e brutal, enquanto os próximos capítulos repentinamente nos apresentam um universo cheio de elementos de suspense e terror, cada um com uma narrativa diferente. Esse formato dialoga com uma antologia, ainda que na maior parte do tempo acompanhamos a mesma personagem. Tal fato não é prejudicial logo de cara, mas peca quando introduz histórias a parte que parecem desnecessárias de um modo geral.


O capítulo que apresenta ao público a trama de Ridgeway podia ter sido facilmente encurtado e encaixado em algum outro momento, e o mesmo vale para a história da garotinha Grace (Mychal Bella Bowman) que ficou jogada em uma bagunça de narrativas. Até mesmo a sempre comentada mãe de Cora, Mabel (Sheila Atim), teve seu final explicado de uma forma breve e repentina, em um momento que simplesmente não pareceu apropriado e digno para o encerramento.


A mesma confusão vale para o tom fantasioso pelo qual Jenkins optou usar. Certas vezes era difícil acompanhar se aquilo que estava assistindo era de fato real ou somente uma ilusão da personagem. Em uma trama tão impactante quanto a aqui proposta, a fantasia nem sempre ajudou a transmitir a mensagem desejada. Mais uma vez, a brincadeira entre o brutal e o poético é colocada em cheque - infelizmente, esse é o momento em que o limite foi ultrapassado.


Amor à primeira vista... ou não


Tentando escapar de clichês e encontrando a sua própria voz, The Underground Railroad: Os Caminhos Para a Liberdade, não é uma série para qualquer um. Ela segue um ritmo lento e maçante na maior parte do tempo, buscando tirar proveito de uma estética magnífica e chamativa. É aquela típica produção que, ao fugir do padrão, traz tanto estranhamento quanto deslumbre.


Digo e repito: não é para todo mundo. Mas, para quem estiver disposto a dar uma chance, se prepare para uma jornada cheia de tragédias, sofrimentos e verdades extremamente dolorosas.



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