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  • Foto do escritorGiulia K. Rossi

Análise | Um Ninho para Dois - Um cuidadoso olhar sobre o luto

O catálogo da Netflix tem produções de todos os tipos e formatos e, enquanto alguns títulos decepcionam o público, outros surpreendem. O longa de Theodore Melfi, Um Ninho para Dois, consegue fazer um pouco dos dois. Ao contar com um elenco talentoso, o filme discorre sobre um tema que nunca é fácil de ser discutido, e muito menos retratado em um roteiro de menos de duas horas de duração: o luto.

Estrelado por Melissa McCarthy e Chris O'Dowd, o filme acompanha a vida de um casal após uma terrível perda. Enquanto Jack tenta recuperar a própria vontade de viver, Lily está superando a sua culpa, focando todas as suas energias em capturar um inteligente pássaro que decidiu invadir seu jardim.



Lágrimas e risadas em um mesmo pacote


Mesmo com uma trama nada menos do que deprimente, o longa se desenrola em um tom tanto cômico quanto dramático, proporcionando ao espectador uma história leve, ao mesmo tempo que profunda e cheia de emoção. O elenco, é claro, faz a sua parte muito bem, e cumpre o esperado: McCarthy e O'Dowd, conhecidos especialmente por seus papéis em produções de comédia, tiram risadas do público sem muito esforço, com talento o suficiente para fazer rir e chorar, tudo junto e misturado.


Além da cenografia com um "quê" de esperançosa, na maioria das vezes trazendo cenas bem iluminadas e paisagens que quase parecem ter saído de um cartaz motivacional (coincidência ou não? Me diga você), o filme, mais do que focar na parte negativa da tragédia, se direciona em uma mensagem de superação, seja na relação conturbada entre o casal principal, ou até nos assuntos mal resolvidos do novo e inesperado amigo de Lily, o psicólogo/veterinário Larry, interpretado por Kevin Kline, mais um nome de peso da produção.

Uma dupla dessas, minha gente!

Quebra de padrões


Em pleno século 21, é satisfatório ver como o cinema mudou, refletindo aspectos da sociedade atual que, a alguns anos atrás, eram completamente ignorados. Em produções dramáticas, é fácil observar que os papéis de maior carga emocional são atribuídos para as mulheres. Homens não choram, não é mesmo? (essa frase contém altos níveis de ironia) Entretanto, o longa de Melfi não se preocupa em seguir tais padrões, e mostra uma esposa que não tem medo de ser durona, enquanto seu marido é aquele que se deixa levar pelas suas emoções.


Essa não é a primeira vez que essa inversão de papéis acontece (e vamos rezar para também não ser a última!), mas é sempre refrescante ver tal novidade, especialmente em uma trama que aborda a perda de um bebê.



Livro de autoajuda?


De fato, Um Ninho para Dois não é aquele tipo de filme "feel good", que você coloca para assistir em uma tarde de domingo para relaxar e distrair a cabeça. Ele segue em um ritmo um pouco lento, custando para, realmente, se aprofundar na narrativa. Porém, quando faz isso, surpreende com uma trama bonita, profunda e, acima de tudo, inspiradora. Os personagens de Lily e Jack são carismáticos o suficiente para torcermos por eles, e é exatamente isso o que fazemos, do começo ao fim.


Por mais que a química entre o casal principal não entregue fogos de artifício, nem nada parecido, o foco do filme não é o romance entre os dois, mas sim o modo como cada um recolhe os pedaços de suas vidas após a tragédia. Abusando, às vezes de forma nem um pouco sutil, de metáforas sobre superação (quer algo mais metafórico do que um pássarinho voando?), o longa deixa claro sua mensagem final, mesmo que durante o caminho misture os tons da narrativa e se perca momentaneamente sobre o que está querendo contar.

Já prepararam os lencinhos?

Um achado agridoce


Alguns críticos podem até dizer que Um Ninho para Dois beira ao melodramático e previsível, porém, ao mesmo tempo que o longa não atraiu a crítica geral, ele conquistou o coração de grande parte dos telespectadores, que podem até não ser especialistas em cinema, mas facilmente se identificaram com a história, os seus personagens, e os importantes assuntos que o roteiro ousa discutir. De certa forma, ele poderia ser um pouco mais ousado, mas, ao todo, consegue entregar uma tocante trama, agridoce na medida certa.



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