Giulia K. Rossi
Análise | Young Royals - Uma autêntica série teen para o público LGBTQ+
No meio da febre de sucessos adolescentes, a nova série da Netflix, Young Royals, é um refresco no mar de produções hipersexualizadas, que beiram ao novelesco. O drama sueco, de fato, não é o típico seriado teen mas, por este mesmo motivo, é uma agradável surpresa, tanto para os fãs do gênero, quanto para os mais cínicos.
A série acompanha o príncipe Wilhelm (Edvin Ryding) que, após se envolver em um escândalo, é mandado pela sua família para o prestigiado colégio interno Hillerska. Lá, ele percebe que levar uma vida "normal" não é tão fácil quanto pensava, e muito menos seguir o seu coração - especialmente quando você é da realeza!

Realidade, aqui vamos nós!
Vamos direto ao ponto: finalmente temos uma série da dona Netflix em que os personagens adolescentes parecem, realmente, adolescentes (ALELUIA!). Esse fato pode até não ser importante para muitos, contudo, é inegável que traz autenticidade para a série e os seus personagens, tornando-os mais realistas e identificáveis para o público geral. Não é todo mundo que parece sair da capa de uma revista! (ainda mais na puberdade!).
Fugindo de certos clichês, Young Royals cria personagens diversos, que se destacam com a sua própria personalidade e problemas. Entre os estudantes de Hillerska, temos Simon (Omar Rudberg) e Sara (Frida Argento), dois irmãos que moram na parte pobre da cidade e não residem no colégio, Felice (Nikita Uggla), uma jovem de sangue real que aparenta ter a vida perfeita, e August (Malte Gårdinger), aquele típico menino popular.
Ao longo da abordagem de vários importantes assuntos, como o preconceito entre classes sociais, a pressão das mídias digitais no mundo atual, o luto, e a busca por aceitação entre os jovens, a série cria personagens interessantes e bem aprofundados, que não são somente unidimencionais e estereotipados. Notícia chocante, mas a garota popular nem sempre vai ser loira com olhos azuis!

Uma boa representatividade: meu sonho de princesa! (SPOILERS)
Sem dúvidas, um dos grandes pontos positivos da série é a sua representatividade. Além de contar com um elenco diversificado, sem fazer disso uma grande questão ou problema, o seriado envolve o espectador em uma linda e tocante história de amor LGBTQIA+. Diferente de algumas produções (inclusive da plataforma), Young Royals aposta em um protagonista gay e entrega ao público um romance que vai muito além da atração sexual e de estigmas tão comuns dessa comunidade.
De fato, o romance de Wilhelm e Simon tem os seus altos e baixos. Não posso dizer que ele não tem suas problemáticas, mas, de modo geral, a química dos dois garotos transparece em cada cena que dividem, assim como o sentimento de um pelo outro. Cheio de complicações envolvendo não somente a homossexualidade, como também a diferença de classe, a história do casal é genuína, apaixonante, e de partir o coração.

Histórias jogadas... (SPOILERS)
Ainda assim, Young Royals não acerta em todas. A série deixa algumas questões mal resolvidas no decorrer da temporada, como o abuso de remédios de August e o "romance" aleatório entre ele e Sara. A dependência do personagem com certeza gerou grandes histórias, porém, não vimos nenhuma resolução ou real consequência de seu vício. No começo parecia um problema e, pouco tempo depois, nunca mais foi mencionado.
Enquanto isso, a relação de August e Sara foi tratada com a mesma superficialidade e, pior ainda, não contribuiu para nada na narrativa. A inesperada amizade entre Sara e Felice é uma daquelas surpresas boas que a produção nos proporcionou, justamente porque ambas podiam ser autênticas uma com a outra. E é por essa mesma razão que a crise de Sara sobre a sua posição social e o seu patético envolvimento amoroso com August simplesmente não fizeram sentido ao serem colocados tão tarde na história.
Por sorte, a questão foi resolvida em um diálogo maduro da garota com Simon, sem o acréscimo de nenhum drama desnecessário - foi simplesmente uma cena bonita entre dois irmãos. Coisa rara de se ver em produções do gênero!

De modo geral...
Young Royals não deixa de apostar no drama e na intensidade das emoções que vivemos na adolescência, contudo, a narrativa é madura, inocente, e deixa de lado situações exageradas e forçadas que tanto vemos em grandes produções. Mesmo com alguns deslizes, a série impressiona com boas atuações, um bom roteiro, personagens carismáticos e uma história simples e envolvente do começo ao fim.
